Lembrando que essa é a terceira parte do texto que escrevi analisando um texto da revista Veja sobre educação no Brasil. Para lê-lo na integra vá até a parte um logo abaixo. Abraço.
Agora vamos ao que motivou a escrita desse texto. Primeiramente eu li o texto referente a capa e não acreditei no que estava escrito, mas a principio iria escrever algo pequeno a respeito. Mas após ler os erros apontados por Veja em algumas cartilhas de escolas públicas e particulares do Brasil não resisti. Resolvi então utilizar a escrita para manifestar o meu descontentamento com o relativismo informacional que a revista trata seus leitores. Não sou leitor de Veja, mas leio tudo que chega em minhas mãos. Por isso cada vez que leio as páginas dessa revista que tratam de política e alguns outros temas que envolvem o Estado fico perplexo com a falta de profissionalismo desses jornalistas que colocam somente o ponto de vista que lhes é interessante e assim manipulam o entendimento do leitor mais desavisado.
Vamos aos erros.
É importante destacar que em alguns casos os livros contêm erros realmente grosseiros, como um mapa do Brasil de 1925 no qual já consta o estado de Tocantins que só foi criado em 1988. No entanto, para evitar a delonga na abordagem do tema eu selecionei somente os deslocamentos de partes textuais mais gritantes para mostrar como um pedaço de uma frase pode ser interpretado da maneira que o repórter quiser. E aqui, nesse caso, a interpretação foi realizada para privilegiar a visão política que a revista Veja tenta disseminar pelo Brasil.
Só para citar alguns deslocamentos:
“A realidade demonstrou que as medidas neoliberais dos últimos governos agravaram a miséria e a concentração de renda no País. (…) No ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o Brasil ficou em 72º lugar. (Das Cavernas ao Terceiro Milênio, História, PÁG.290, ED. Moderna ).
Comentário – Só no ano passado 6 milhões de brasileiros saíram da miséria. O país reduziu a desigualdade e ingressou na lista dos países com alto desenvolvimento humano.”P.80
É engraçado como podemos usar alguns dados da maneira como quisermos. Nessa informação eles não dizem de que ano é esse livro, sem contar que não exemplificam o que é a política neoliberal. Se eu não estou enganado um dos principais ideais neoliberais é a privatização de estatais para que o estado tome conta só do necessário a população. Falando assim até parece bonito.
Sem contar que o IDH, que a revista utiliza para contrapor a informação, veio após cinco anos de governo Lula que freou a estatização e transformou algumas estatais, há muito esquecidas, em exemplo de lucratividade.
Logo na seqüência dessa explanação eles citam outro erro:
“Dos chamados mercados emergentes, como a China e a Índia, o Brasil é o único que (…) aderiu totalmente ao neoliberalismo, o que provocou a desarticulação de setores estratégicos e a perda de conquistas econômicas e sociais. (Geografia do Brasil, PÁG.26, ED.Moderna).
Comentário – Com 40% da riqueza nacional nas mãos do estado, o maior empregador do país, gastos sociais generosos e despesa pública que cresce acima da variação do PIB, o Brasil está para o neoliberalismo assim como Amy Winehouse está para a temperança.”P.81
Se prestarem atenção fica clara a contradição entre um comentário e outro tratando basicamente sobre o mesmo tema. Primeiro eles afirmam que a política do Brasil é neoliberal e depois dizem que não é. O que mais eu posso dizer a respeito?
Pra fechar coloco um último “erro” constatado pela equipe;
“Os meios de comunicação de massa são formadores de opinião, que divulgam apenas as idéias de seu interesse. (Geografia, PÁG.42 Ed. Quinteto Editorial).
Comentário – O autor está em boa companhia. Foi exatamente essa a justificativa dada pelo ditador Fidel Castro ao fechar os jornais em Cuba e lançar o órgão monopolista oficial de ‘formação de política’, o diário Granma.”P.84
É engraçado se deparar com uma afirmação como essa, já que fica visível nas páginas dessa matéria a tendência a colocar fatos de uma maneira a beneficiar a visão corporativa de Veja.
Talvez o autor do livro pudesse ter expressado essa idéia de uma maneira um pouco mais “floreada”, já que para os estudantes de comunicação não é nenhuma novidade saber que as notícias podem até ser veiculadas como de interesse público, mas sempre – ou quase sempre – carregam conteúdo/viés que busca agradar o dono do meio. E não adianta sapatear.
Por isso vale à pena ressaltar, leia o que você gosta de ler, mas com atenção. Os meios de imprensa estão sempre procurando ofuscar o seu discernimento a respeito de vários temas importantes. É de extrema relevância que nós nos conscientizemos da necessidade de melhorar a educação do nosso país, mas não podemos nos render a idéia de que o posicionamento político dos professores influencia na deficiência das nossas salas de aula. Temos que procurar conhecer um pouco mais do que é realizado nos países de ponta para que pouco a pouco possamos melhorar o sistema educacional brasileiro mantendo as particularidades, boas, que conseguimos desenvolver. Sejam elas qual for.
Depois dessa massa textual, espero que vocês tenham gostado e possam fazer comentários pertinentes a essa ánalise. Abraço e estamos aí para tirar todas as dúvidas.